O autor de joias utiliza uma série de técnicas para dar vida às suas criações e raramente um artista assim copia a criação de outro artista. Técnicas que raramente são usadas pelo ourives de produção ou pelo ourives comercial, por mais que esses trabalhem artesanalmente e alguns até executem peças de alta joalheria, esse profissional se especializa em atender uma demanda mais pasteurizada da joalheria e procura suprir o que o mercado lhe impõe, seja a joia da moda, seja uma joia comemorativa (bodas de ouro, por exemplo), seja um anel de formatura e por aí vai. Entendam que não estou falando mal da profissão e nem dos profissionais, pois eu mesmo me encaixo nessa segunda opção, mas tenho que fazer esse parâmetro para diferenciar os dois lados da mesma moeda.
Voltando ao autor de joias, que seria o ourives que desenha e cria uma joia a partir de um conceito pessoal, esse artista é o que mais utiliza essas técnicas que vou descrever abaixo. Resolvi fazer essa postagem depois de ouvir um bate-papo de colegas que disputavam a autoria de uma joia já que deve ser reproduzida a uns 50 anos e um deles teimava e dizia ser o criador da mesma; também diziam ser experts nas quatro ou cinco técnicas da ourivesaria.
Vou fazer uma rápida descrição, pois se for entrar em detalhes teria que escrever um livro pra explicar tudo, e não sem antes fazer um curso em cada uma delas para poder explicar corretamente, então seria muito trabalho e ia demorar uns anos.
As técnicas (que são mais de cinco) são essas:
1-Martelado e Estampado- Como o nome diz, nesse acabamento cria-se texturas na joia com o martelo ou punções de vários formatos; também podemos utilizar o martelete para trabalhar a peça:
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2-Textura com Laminador- O metal é laminado junto com tecidos, telas ou qualquer outro material que deixe desenhos na chapa que será utilizada para o feitio do anel ou joia, lembrando que deve-se usar esse material que vai proporcionar a textura entre duas chapas, jamais em contato direto com o cilindro do laminador.
3-Fusão- Outro metal é aquecido até fundir-se no outro metal.
4-Fosco- A textura fosca é criada com ajuda de abrasivos, pode ser uma fresa, lixa ou uma ponta montada.
5-Polido- É o mais comum, chega-se a esse acabamento com a ajuda da politriz que utiliza escovas e pastas e também de tamboreadores que utilizam bilhar de aço ou no caso do tamboreador vibratório utiliza-se chips de cerâmica e até cascas de arroz e nozes.
6-Acetinado- O acetinado é conseguido através do jato de areia e suas cargas de pó de vidro ou óxido de alumínio cujas medidas de malhas/grão mais comuns são 60/80/100/320.
7- Gravação com ácido- A peça tem partes isoladas enquanto outras são expostas ao ácido e corroídas pelo mesmo, obviamente o artista escolhe o desenho a ser formado pela corrosão.
8-Patinado- O patinado é feito com a aplicação de tintas especiais ou esmaltes e depois são lixados para conseguir uma textura muito particular para cada peça.
9-Oxidado/envelhecido- Também utiliza produtos químicos (fígado de enxofre no caso da prata) para oxidar e depois são polidas algumas partes para conseguir a textura.
10-Reticulado- Técnica onde a joia tem a superfície fundida de modo controlado para formar uma textura deformada e única para cada peça.
11-Granulado- Pequenas bolinhas de metal são fundidas sobre outro metal, porém sem perder o formato.
12-Esmaltação- Esmaltes cerâmicos são colocados sobre as joias e depois são derretidos com a ajuda de um maçarico ou forno Mufla.
13-Gravação artística manual- Técnica para poucos onde a joia é desenhada à mão com ajuda de buris. No Brasil, a maior referência é o genial Jorge Uquillas.
14-Incustração- Nessa técnica o metal é escavado e um outro metal de outra cor é encaixado nessa ranhura e acomodado com punções e martelos.
15-Craquelado- O craquelado exibe sobreposições, degraus com variados tamanhos e espessuras.
16- Escovado- Acabamento feito utilizando o motor de chicote e escovas de latão, aço e Scotch Brite.
Processos e técnicas.
Conformação- A conformação é feita por uma matriz onde o artista esculpe a peça e depois utiliza uma prensa hidráulica para reproduzir a peça a partir dessa matriz.. Lembrando que a palavra conformação é qualquer ato que o ourives venha usar para dar forma ao metal.
Keum Boo- Técnica oriental onde chapas finíssimas de ouro são aquecidas e prensadas sobre a chapa de prata com a ajuda de brunidores e punções.
Cinzelado e Repuxado- Técnica onde o metal é rebatido e emoldurado sobre uma base de madeira ou de breu. No Brasil temos o Sorro Edebar que faz cuias, cabos de facas, fivelas entre outras ..
Mokume-gane- Várias camadas de metais diferentes são sobrepostas, fundidas (não totalmente) e depois prensadas e laminadas várias vezes. Sendo que essa chapa depois será a base para as joias a serem fabricadas.
Forja- Joias feitas com martelo, fogo e bigorna, assim como os ancestrais faziam.
Inlay- Técnica onde o anel possui uma canaleta que é
preenchida por madeira ou gemas trituradas, depois de coladas e
lixadas resultam uma textura única em cada joia. Uma referência é o
amigo Carlos Oliveira.
Filigrana- Técnica antiga onde minúsculos fios de vários formatos são encaixados dentro de bases maiores para formar uma das artes mais difíceis e belas da ourivesaria. Portugal é uma referência dessa arte e também alguns países latinos. Thais Guarnieri e Mariana Ribeiro têm um livro sobre a técnica.
A autora de joias Paula Forato é uma referência dessa arte.
(Brinco filigrana portuguesa)
Cravação- Uma técnica usada em quase 95 % das joias é cravação de pedras preciosas. Geralmente o ourives repassa esse trabalho para o cravador, profissional que se especializa nessa técnica difícil de ser executada. Eu posso dizer que nos meus 30 e poucos anos de bancada não me arriscava, agora tardiamente resolvi fazer um curso de cravação único no Brasil, o CDV-cravadores de valor do professor Jonas Fitz.
Modelagem em cera- Com a ajuda de ceras pré-moldadas e ferramentas manuais o escultor cria as peças manualmente e depois funde essa peça em metal, assim obtém uma matriz e a partir dessa matriz um molde em silicone, com esse molde pode reproduzir quantas cópias forem necessárias.
Modelagem de joias 3D- hoje a técnica acima de se fazer a joia esculpindo manualmente está sendo substituída pela modelagem 3D, essa técnica consiste em desenhar a joia no computador utilizando um programa como o Rhinoceros com alguns plugins específicos e depois imprimir o mesmo utilizando uma impressora 3D. A partir desse modelo em resina fabricado na impressora, a joia será feita pelo processo de fundição por cera perdida.
Fundição por cera perdida- Explicando rapidamente, a fundição por cera perdida consiste em transformar a joia em cera ou resina feitas a partir dos dois processos acima e transformá-la em uma joia de metal.
A joia em cera/resina é colocada numa base de cera chamada de árvore.
Depois é colocada dentro de um tubo de aço.
Esse tubo de aço será preenchido com revestimento (gesso) utilizando alguns procedimentos para retirar as bolhas de ar, depois será aquecido para que a cera seja eliminada de seu interior.
Depois será levado a um forno para ser calcinado e assim poder receber o metal.
Utilizando um sistema de vácuo, o metal derretido será sugado para preencher o interior do tubo, formando assim as joias.
Depois serão cortadas, acabadas e polidas.
Todas essas técnicas podem ser pesquisadas de forma individual, principalmente em sites gringos, mas existe material literário de boa qualidade no Brasil.