quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Não desista!

 

O início difícil na ourivesaria para quem não pode pagar uma escola.

A profissão de ourives tem um período particularmente complicado no começo, especialmente para quem não tem condições de frequentar uma escola paga. Esse início, para quem não dispõe dessa possibilidade, costuma ser duro. Não é apenas a falta de acesso ao conhecimento técnico — é a dependência inevitável de favores.

Sem uma formação estruturada, o aprendiz acaba precisando contar com a boa vontade de quem já está no ofício. Ele vai depender de pessoas dispostas a ensinar, corrigir, orientar… e nem sempre encontra isso. A verdade é que a ourivesaria tradicional sempre teve aquela mistura de generosidade e reserva: muitos ensinam, mas muitos guardam. E quando se está começando, cada pequeno detalhe omitido pode atrasar meses de evolução.

Essa barreira silenciosa — que nunca aparece nos livros e raramente é discutida — foi algo que eu mesmo vivi diversas vezes. E uma delas marcou bastante. Eu trabalhei com um ourives carioca, um profissional excelente, muito bom de verdade. Ele tinha história: trabalhou em grandes marcas, com gente importante, peças finas, alto padrão. Mas era, ao mesmo tempo, uma das pessoas mais egoístas que já conheci na profissão.

Quando trabalhamos juntos, ele literalmente virou as bancadas. Modificou a posição delas só para que eu não pudesse enxergar o que ele estava fazendo. Não queria que eu aprendesse o método dele, o jeito dele de executar as peças. Eu, na época, fiquei chateado — não pelo segredo, mas pelo nível de desconfiança. Mesmo assim, vida que segue.

Cheguei até a propor pagar para que ele me ensinasse alguns processos. Ele poderia simplesmente ter dito “não”, e tudo bem, era [ direito dele, mas não: ele se revoltou, achou aquilo uma afronta pessoal. A reação foi totalmente desnecessária, mal educada, muito acima do que a situação exigia. Foi ali que percebi o quanto o medo de dividir conhecimento pode transformar um profissional brilhante em alguém pequeno.

E o mais curioso é que muitos anos depois — quase uma década — ele voltou para a minha cidade. E, observando minha evolução, minha oficina bem montada, meu ritmo de trabalho, veio me propor sociedade. Aquele mesmo que escondia até a posição das mãos para eu não aprender o que ele fazia. Eu, educadamente, disse que não tinha interesse. Não por vingança, mas porque meus caminhos já eram outros. O tempo muda tudo, inclusive as relações de amizade.

Em 2020, fui trabalhar em Rio Preto e conheci muitos profissionais que me seguiam por causa do blog Ourivesrock. Foi gratificante ver tanta gente agradecendo pelo conteúdo que eu sempre compartilhei.

Entre eles havia um jovem cravador muito talentoso. Pedi ajuda a ele, já que nunca fui especialista em cravação. Ele se mostrou disposto, passou uma lista de ferramentas e sugeri até uma permuta : eu ensinaria algumas técnicas minhas e ele me ensinaria a parte da cravação, ou então acertaríamos um valor pelas aulas. Tudo combinado — até que ele simplesmente desapareceu. Não voltou mais à loja, não marcou as aulas, não enviou valores. E eu já tinha gasto dinheiro com ferramentas. Recusar é um direito, mas prometer e sumir é falta de postura. Até hoje não sei qual foi o receio dele.


Essas histórias mostram como a cultura de segredo atrasa a profissão. Não é apenas a técnica que dificulta: é o ambiente, a falta de acesso e, principalmente, o excesso de ego. 

Mas sempre aparece uma saída maravilhosa para quem propaga a gentileza, pouco tempo depois eu consegui fazer um curso com outro profissional (Jonas Fitz) que ensinava uma técnica muito superior e hoje posso dizer que meu nível está muito acima do que eu poderia ter aprendido com o colega tratante. Aliás fiquei honrado em saber que o Jonas era meu seguidor, pode isso?!

O melhor conselho que existe

Em qualquer profissão, especialmente na ourivesaria, não existe mágica. Não existe receita, gambiarra milagrosa ou atalhos. Existe apenas:

Ler. Estudar. Praticar. Elaborar.

Quem ignora isso acaba limitado, preso em vícios, crenças bobas e métodos que só atrasam sua evolução.

Mas, como sempre, há quem prefira acreditar em mágica. E esse tipo, infelizmente, colhe exatamente o que planta: resultados mágicos — isto é, inexistentes.


sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Museu da ourivesaria- Ateliers, máquinas e ferramentas antigas.

 O blog reúne inúmeras postagens sobre ateliês, ferramentas e máquinas antigas. Mais do que simples conteúdos informativos, são registros contemplativos — celebrações da beleza desses objetos e, muitas vezes, do ambiente bucólico que os cerca. A seguir, compartilho algumas fotos de diferentes partes do mundo, todas capazes de despertar em nós uma sensação boa, acolhedora e cheia de saudade. Aproveitem…





































































































Não desista!

  O início difícil na ourivesaria para quem não pode pagar uma escola. A profissão de ourives tem um período particularmente complicado no ...